1984 às avessas: sobre a segunda tela e a vitória sobre a inércia

A noite de quinta feira, 13 de junho de 2013, não pode ser esquecida em uma ou duas semanas. Os protestos nas ruas do Rio de Janeiro e principalmente em São Paulo assustaram aqueles que assistiram tudo pela televisão. Bombas de efeito moral, balas de borrachas, faísca e fumaça foram apenas uma parte, a visível, do realmente aconteceu.

A primeira grande constatação que encontro: a sociedade saiu às ruas. Reuniu-se, de maneira organizada, para protestar contra aquilo que não considera justo. Não interessa se são 20 centavos. Não é esse o foco mais amplo. Há interesses partidários? Com certeza. Arruaceiros, baderneiros? Também… Mas nada disso diminui o fato de que, finalmente, a inércia foi vencida.

O El Pais, da Espanha, escreve: “Quizás Brasil, a partir de ahora tendrá que acostumbrarse a esas manifestaciones callejeras tan conocidas ya en otros países“. Houve uma acomodação preguiçosa após a queda do Collor? A zona de conforto está tão confortável assim? O brasileiro não sabe mais protestar com seriedade?

Sabe… Sabe sim.

O que me leva ao segundo ponto: depois de tudo o que vi e li, sentado na minha confortável posição no interior do estado, tudo o que aconteceu hoje supera, e muito, o que a televisão mostrou. As redes sociais são exatamente o oposto da engenhoca chamada de teletela (telescreen, no original), do livro 1984, de George Orwell: enquanto lá o governo da Oceania mostrava o que queria, quando queria e como queria, o Twitter, Facebook e Youtube (para ser mais especifico), serviram de plataforma, de porto seguro.

Cá, a visão de quem estava no confronto teve espaço. Relatos de gente agredida em bares, estacionamentos, pontos de ônibus, teoricamente não envolvidas com a manifestação, mas no lugar errado, na hora errada (será?). Outros que a depredação partiu do lado fardado. A reportagem fotográfica, por sua vez, produziu imagens de conteúdo jornalístico mais do que relevante e, porque não, artisticamente belas. A beleza no caos.

Manifestação

Das imagens estáticas para o vídeos: policial estilhaçando vidro da própria viatura, balas de borrachas e bombas de efeito moral (vencidas?) na direção de jornalistas no exercício da profissão. O que a televisão não pôde ou não quis mostrar, a rede mundial de computadores, celulares e idéias fez questão de não esconder.

Por fim, é chover no molhado, ainda que necessário, falar que os excessos ocorreram dos dois lados. A fala do Prefeito Fernando Haddad me parece bastante bastante lúcida: “Na terça feira, eu penso que a imagem que ficou foi a da violência dos manifestantes e, infelizmente, hoje não resta dúvida de que a imagem que ficou foi a da violência policial“. Felizmente ninguém perdeu a vida. E uma nova manifestação parece estar sendo organizada.

Novos tempos. Bem vindos, finalmente!

Um pensamento sobre “1984 às avessas: sobre a segunda tela e a vitória sobre a inércia

  1. é isso ai Frankinho! assino embaixo. E acrescento: Tudo na vida, faz parte de um processo. Nós estamos no processo de reaprender a sair nas ruas. E como em todo processo de reaprendizado, no início, há excessos. Esses excessos, espero, vão sumindo conforme vamos pegando o jeitão da coisa.

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