Literatura do rapé

O rapé, segundo o que pude apurar com São Google, é uma espécie de fumo ralado. Era muito popular no século XIX e no XX, sendo considerado chique por uns, mas como vício por outros. Os índios de algumas tribos ainda usam o rapé. O efeito pode ser forte, “derrubando” o usuário por algum tempo.

Na literatura, pelo menos dois personagens fazem uso do rapé. Claro que mutos outros também devem ter esse costume (há registros nos livros de Machado de Assis), mas, no momento, só me recordo desses dois.

O Cônego Dias, de “O Crime do Padre Amaro” (Eça de Queiróz),  sorve suas doses regularmente. Não importa a hora e o local. Pode ser num passeio após o almoço, ou mesmo admirando o pôr-do-sol, nas cálidas tardes de Leiria. O confessionário também é um ótimo lugar, enquanto ouve as senhoras de cabelos brancos confessarem, com a mão no peito, que invejaram a saia alheia.

Parece estranho que um padre, um cônego, enfim… alguém do poder eclesiástico faça uso de uma substância entorpecente. Apesar de atribuídas algumas  qualidades medicinais, o rapé é tabaco ralado, portanto causa dependência e uma série de complicações posteriores.

Outra personagem bem conhecida do grande público é Tia Nastácia em Sítio do Pica Pau Amarelo. Ela, por sinal, faz uso do pó na frente das crianças, sem cerimônia.
Chega até ser cômica a descrição do livro Viagem ao Céu (sic): “(…) enganaram Tia Nastácia e lhe deram um pouco de pó de pirlimpimpim dizendo que era rapé. A velha cozinheira cheirou uma dose dupla do pó mágico e foi parar na Lua com as crianças e seus bonecos (…)”

O pó de Pirlimpimpim, aliás, é bem suspeito. Esse negócio de ver São Jorge, o Dragão, fazer bolinhos de chuva na Lua. Sei não. Não me cheira bem (hã-hã.. pegaram?). Essa série está mais para Sítio do Cogumelo Amarelo.

Para todos os efeitos (sem trocadilho), o rapé é uma substância legal – do ponto de vista jurídico. Mas que é MUITO estranho suas presença em livros infantis, não se pode negar. Tão estranho que o famoso pó de Pirlimpimpim foi considerado ofensivo pelos censores do regime de 64 e teve de ser proscrito da TV na época. Por que será, hein?

O mais interessante nessa história toda é que, de fato, esses escritores TEM razão em incluir o rapé como parte do enredo. Uma das funções, ainda que inconsciente, da literatura é registrar os costumes da época. Tanto faz se a história é um romance melodramático, um suspense, um terror. Entre sustos, beijos, tiros e paisagens, o cotidiano estará presente.

E como isso é encantador!