Resenha: O Amor é a melhor estratégia

Livros de auto-ajuda costumam me irritar. Em geral, a teoria contida neles é sempre maravilhosa e o autor nos passa a impressão que tudo é fácil. Ou pelo menos foi fácil para ele. Também não me agrada a ideia de que um desconhecido saiba como resolver seus problemas. Mostra quão incompetente você é. Em função disso, achei ridículo ler “O amor é a melhor estratégia” (Love is the Killer App, no original em inglês) para um trabalho de faculdade. Mas devo dizer também que o livro me surpreendeu.

Tim Sanders, autor, foi uma espécie de gerente de idéias do Yahoo. Já era peça fundamental na Broadcast.com e, no livro, conta como atingiu o sucesso na vida profissional. Ele credita sua ascensão meteórica nas empresas que trabalhou a um elemento em particular: o amor. Sim, de fato, falar em amor dentro do ambiente empresarial soa estranho. Falar em amor remete a romances, beijos demorados, dar a vida para salvar a quem se ama. Mas não é bem isso. Amor nas empresas liga-se a uma atitude em particular: dividir com todo mundo o que você sabe, quem você conhece e seus sentimentos.

Quem divide o que Sanders chama de “intangíveis” é chamado de LOVECAT. Um LOVECAT é um referência dentro de uma empresa. Ele é um monstro de conhecimento, espalhando a teoria que aprende principalmente em livros. É uma referência em contatos, pois sempre sabe de alguém que pode te ajudar com determinado projeto ou problema. E, acima de tudo, é humano, pois se interessa verdadeiramente pelas pessoas.

A diferença desse livro é que Tim Sanders mostra como colocar toda a teoria em prática. O capítulo sobre rede de contatos é uma aula sobre networking. Passos realmente eficazes de como coletar novos integrantes, como conectá-los e a maneira correta de sair de cena, só para dar um exemplo. Em Conhecimento, ponderações curiosas sobre a importância dos livros, em detrimento de mídia jornalística, crônicas e ficção. Segundo eles, com as reportagens você “fica sabendo”. Com os livros você “conhece”.

Ao final da leitura, recheada de histórias (um tanto quanto piegas) de mudanças de comportamento e alcance da felicidade corporativa, você fica com a sensação de que algo está faltando. Conversando com minhas colegas de grupo para acertar o roteiro da apresentação, conseguimos descobrir o que é: Ok, beleza, Tim Sanders se deu bem, o amigo dele, Chris “Cão danado” também e tantas outras pessoas para as quais o agora palestrante fez seu discurso do amor. Mas tudo isso LÁ NOS ESTADOS UNIDOS.

E aqui no Brasil?

Num país no qual as formas de entretenimento favoritas são música e televisão, não é de se espantar que poucos leiam. Podemos considerar um avanço a incorporação da internet no cotidiano, já que assim as pessoas são forçadas a ler. Contudo, como vocês já sabem, não é esse tipo de leitura que um verdadeiro lovecat prefere. Isso sem falar que brasileiro se adora se meter na vida dos outros, mas quando é pra se comprometer, é o primeiro a tirar o seu orifício anal da reta. Sejamos francos.

Mas ainda sim é possível. Como Sanders diz numa entrevista exclusiva a ser postada amanhã, não importa em que tipo de sociedade e forma de administração você. Todas tem em comum PESSOAS. E é isso que importa em uma empresa. Lucros altíssimos, contratos milionários são só uma consequência da satisfação do seu cliente e de seus funcionários.

De qualquer maneira, se você for persistente o bastante para seguir e sustentar os três pilares do estilo lovecat de ser, pode ter certeza que será reconhecido como alguém diferenciado no mercado de trabalho. Os conceitos são até óbvios, mas unidos tem um sentido muito mais amplo.

6 pensamentos sobre “Resenha: O Amor é a melhor estratégia

  1. Admirado Frank,

    Apesar da sua crítica quanto ao inexpressivo/insignificante hábito da leitura, por parte dos brasileiros, ratifico isso e retifico: os nossos cowboys norte americanos, possuem hábito de leitura aquém ao dos brazucas.

    Aliás, nossos jovens de hoje, em sua maioria, nunca leram/escreveram tanto. Porém, há a completa ausência de conteúdo e de respeito ao nosso querido Português.
    A diferença deles, é a rotatividade de profissão/encarreiramento deles. Enquanto aqui, nascemos já pre(pais)destinados a uma profissão, lá, só no segundo ano de faculdade, é que o aluno decidirá sua formação (há exceções).
    Neste caso, um cara que gosta de ler, que aprendeu a pensar, já passou por diversas experiências, até que finalmente acertou em alguma. Daí escreve livros da auto ajuda. Só que estes livros mais ajudam a ele. (acho que tratou-se de um erro de grafia. O nome correto deveria ser autoR ajuda.)

    O que mais me revolta, MAIS até que as historinhas tristes, é a facilidade que eles tem de salientar o óbvio e serem aclamados por isso. Mas, como dizem sobre carros de 1 milhão:”se inventaram é pq há quem compre”.

    Abraços.

    • Será mesmo que os americanos leem menos que os brasileiros? Não sei, tenho lá minhas duvidas…. E sim, em todos os lugares o problema maior não é QUANTO ler, mas seim O QUE ler. É justamente isso que ele fala. Não adianta ler todas as revistas do mundo, jornais, portais de internet. O certo é ler LIVROS e ainda sim aqueles relacionados ao seu trabalho, o que, convenhamos, não é nada fácil.

      Quanto ao auto ajuda…. é justamente essa a minha crítica. De fato, o Sanders coloca conceitos óbvios. É claro que você tem que ler, é claro que você tem que compartilhar seus intangíveis, é claro que você precisa dar amor aos seus colegas de trabalho. Mas como se faz isso? Você já catalogou seus amigos? Não vale dizer que isso o ORKUT faz… pois é…

      E a parte que mais me deixou intrigado foi a que expus no texto. Tá, beleza irmão, funcionou para você. E para nós, pobres mortais? Ainda estou devendo a entrevista (estou com preguiça de traduzir de novo, mas se depender da boa vontade das minhas colegas de grupo, é o que eu vou ter que fazer), mas lá ele explica direito como isso funciona.

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