Couro de boi

Dias desses resolvi, na aleatoriedade, ouvir alguma rádio (não pergunte o porquê. Apenas aceite o fato e siga em frente). A estação sorteada foi a Terra FM, especializada em música sertaneja. Percebi que o programador daquela hora (tarde da noite) se esforçava para mesclar o chamado Sertanejo Universitário com as antigas modas de viola (o que é muito justo, diga-se de passagem). Numa dessas, eu ouvi uma das musicas mais tristes que já passaram pelos meus fones de ouvido.

Em itálico, a letra da música. Entre parênteses, alguns comentários meus.

Couro de boi (Sérgio Reis)

Sentindo o peso dos anos sem poder mais trabalhar
O velho, peão estradeiro, com seu filho foi morar

(Justo… os aposentados do país merecem um descanso após contribuir tantos anos para o progresso do Brasil. O filho, provavelmente com mais posses, deve ter cedido um quartinho ao pai, provavelmente viúvo).

O rapaz era casado e a mulher deu de implicar
“Você manda o velho embora, se não quiser que eu vá”

(Depois reclamam da sogra! Olha que megera essa nora! Mandou na lata um “ou ele ou eu”. Mas o que é que o velho (não) fazia? Flatulência brava? Não lavava louça? O que ela queria, afinal. Bom… espero que o filho dê um jeito nessa situação estranha).

E o rapaz, de coração duro, com seu velho foi falar

(Alá… agora… ele vai falar pro velho ficar e dar um pé na bunda da esposa)

Para o senhor se mudar, meu pai eu vim lhe pedir
Hoje aqui da minha casa, o senhor tem que sair

(O QUÊ?? Ah não… mas será o Benedito? O rapaz escolheu ficar com a esposa. Espera aí… ele disse HOJE? Assim, sem mais nem menos? Mandou ralar peito, picar a mula, passar sebo nas canelas, se pirulitar e outras expressões estranhas para um simples “ir embora”? Ele deve, pelo menos, colocar as roupas do velho em uma mala e levá-lo até a rodoviária, né? Decência e dignidade JÁ!).

Leve este couro de boi que eu acabei de curtir
Pra lhe servir de coberta aonde o senhor dormir

(Que filho da p***!!!! Não bastasse enxotar o velho, ainda o faz sem recurso algum! Esse couro de boi curtido é só de sacanagem, só pela galhofa. Que baita sacanagem! Estou indignado).

O pobre velho, calado, pegou o couro e saiu
Seu neto de oito anos que aquela cena assistiu
Correu atrás do avô, seu paletó sacudiu

(Coitado do velho… mandou, ele foi. Sozinho, pé na estrada de terra. Ainda bem que o neto correu atrás, para dar algumas palavras de incentivo, um abraço ou mesmo pedir para o velho ser forte e lutar! É o mínimo para se fazer numa situação horrível dessas).

Metade daquele couro, chorando ele pediu.

(Vai tomar Nokum! Só tem sacana nessa família? O coitado de velho saiu com uma mão na frente e outra atrás, com uma porcaria de um couro curtido, aí o moleque vai e pede METADE? Ele espera que o velho cubra só o peito ou só o pé? Vai encher o saco da vizinha e deixa o teu avô em paz, rapaz).

O velhinho, comovido, pra não ver o neto chorando
Partiu o couro no meio e pro netinho foi dando

(É né… o velho tem coração de manteiga. Não teria coragem de negar esse último presente. Além de trabalhador, paciente, resignado, o vovô tem bom coração. Esse vai pro céu).

O menino chegou em casa, seu pai foi lhe perguntando
Pra que você quer este couro que seu avô ia levando

(Só me falta o pai mandar o moleque buscar a outra metade. Como só tem traíra, eu não duvido de nada).

Disse o menino ao pai: Um dia vou me casar
O senhor vai ficar velho e comigo vai morar
Pode ser que aconteça de nós não se combinar
Essa metade do couro vou dar pro senhor levar

(Maaaaa oeeeeeeee! Olha o plot twist aí! Toma na cabeça! Chupa, que essa manga é doce!)

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